“O relato dramático da mais polêmica temporada de escaladas do Everest” essa é a frase que acompanha o título na capa do livro.
Eu pouco sabia sobre o que encontraria dentro do livro Montanha Sombria quando ganhei ele de presente do Papai Noel. Mas, ao ler essa frase na capa, logo percebi que seria mais uma jornada com páginas e mais páginas de sonhos, heróis, superação, muito frio e pouco, mas muito pouco, oxigênio. Eu já tinha “sobrevivido” à leitura de outros livros com ingredientes semelhantes e estava pronta para, mais uma vez, mergulhar no mundo do Everest.
Apenas para situar: O livro, que foi escrito pelo montanhista Nick Heil, relata com muita precisão os dramas de incidentes e mortes acontecidos na temporada de escalada do Everest no ano de 2006. Os personagens e fatos são marcantes e o drama que se configura nesse cenário é polêmico, questionando atitudes e valores comerciais/sociais/culturais em alta montanha.
O livro inicia com uma apresentação de alguns dos personagens, buscando contar um pouco da vida de cada um deles e de como chegaram até o Everest no fatídico ano de 2006. Entre os tantos personagens, no centro dos acontecimentos mais dramáticos estão: Russell Brice, David Sharp e Lincoln Hall.
O primeiro deles é o centro da atenção do livro. Russell, também conhecido como Big Boss, é o proprietário da Himalayan Experience (Himex), uma das mais bem sucedidas operadoras de expedições no Everest. Ele praticamente dita as regras do Everest exercendo uma espécie de liderança sobre os acontecimentos na alta montanha. David Sharp era um montanhista britânico que queria chegar ao cume, sem apoio, sem xerpas, sem oxigênio. Ele tinha uma espécie de fascinação pela montanha e sua morte “solitária” aos 8.500m foi o estopim de toda a polêmica. E, por fim, havia Lincoln Hall, um conceituado alpinista que estava em busca de ser o primeiro australiano a chegar ao cume. Seu objetivo era chegar e voltar, com vida, façanha que ele conseguiu realizar quase que como um milagre.
Ao longo do livro muitos outros personagens vão sendo apresentados ao leitor, talvez até personagens demais e informações demais sobre cada um deles. Mas o drama da quantidade de personagens não é nem de perto tão grave quanto o excessivo número de pessoas que decidiram ter a experiência de subir o Everest naquele ano. Fica evidente uma crescente situação de superlotação da montanha; são pessoas demais, em um mesmo local, com um mesmo objetivo e o pior: muitas delas com pouco conhecimento e preparação. Esse tema também é uma das polêmicas abordadas no decorrer dos acontecimentos. O leitor vai percebendo a gravidade da situação ao mesmo tempo que vai acompanhando cada um dos aventureiros que acaba sucumbindo no meio do caminho. E não são poucas as mortes. A temporada de 2006 acabou sendo a segunda mais mortal da história do Everest.
São histórias de vivos, mortos e sobreviventes, que se entrelaçam no topo do Everest, onde cada um tem um motivo, mas todos tem o mesmo objetivo: chegar ao ponto mais alto da terra.
Ao final, depois de ler e analisar cada uma das mortes, é difícil, se não impossível, um posicionamento sobre as atitudes tomadas por cada montanhista, por cada xerpa e pelos coordenadores das expedições. Como definir o que foi certo ou errado em cada momento?
Cada pessoa que decide sair do conforto da sua casa e ir até o Everest, para tentar chegar até o mais alto ponto na face da terra, é um ser único. Cada uma dessas pessoas teve uma história, uma vida e foram criadas dentro de valores culturais e sociais que ditam o certo e o errado. Mas, até onde esses mesmos valores do dia-a-dia de uma vida mundana podem ser reproduzidos acima de 8.500m, quando nossas vidas sequer se mantém por mais que algumas horas?
A polêmica: Deixar o outro morrer. É certo? É errado? É desumano? É desumano acima dos 8.000 metros?
Todos, exatamente todos, que chegaram perto da morte em condições de alta montanha tinham total consciência dos perigos que encaravam. Não era apenas o frio, desidratação, cansaço e falta de ar, eram riscos sérios, de hipotermia, queimaduras, cegueira, congelamentos, edema cerebral, edema pulmonar e morte. Uma morte lenta e gradual acompanhando a parada de cada sinal vital.
Todos eles sabiam dos riscos e ainda assim, todos decidiram tentar. A decisão de subir o Everest é pessoal. Ninguém pode te carregar montanha acima (podem até te obrigar a descer, mas não a subir). Após decidir subir, tentar e sucumbir pela própria incapacidade de vencer as adversidades, é possível colocar a culpa dessa morte em outra pessoa que não seja ela mesma? Sim?
Como podem perceber, além de uma aventura sem igual para cada um dos personagens que estiveram nessa temporada, o livro traz esse grande questionamento. Não há uma resposta única e correta, mas essa reflexão que o autor propõe, sobre valores e atitudes em situações extremas é válida e quase obrigatória, para aqueles que decidem se aventurar pelo mundo, sair da rotina social, correr riscos ou simplesmente viver do lado de fora da zona de conforto.
Dados e informações
Título: Montanha Sombria
Autora: Nick Heil
Editora: Objetiva
Páginas: 271
Sobre o autor: Nick Heil escreveu pela primeira vez sobre a temporada de escalada de 2006 para o Men’s Journal. Como jornalista autônomo baseado em Santa Fé, no Novo México, foi editor sênior da revista Outside de 1999 a 2006. Trabalhou também como instrutor de alpinismo e esqui, tendo viajado por América do Norte, Europa e Ásia.
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* Esse texto estave originalmente publicado em Mundo Crux.
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