Local da história: Camping Cepilho, Trindade, Rio de Janeiro, Brasil
Data da história: 27/12/2012
Enviada por: William Gomes
Depois que me convenci de que acampar não seria tão terrível assim, tive que convencer a minha esposa. Para convencê-la, usei o argumento de que um acampamento seria uma ótima diversão para o meu filho Lucas, que é apaixonado pela natureza.
Depois de todos decididos e empolgados, tínhamos que definir o lugar… Acampar onde?
Até hoje não sei o motivo de não ter usado a internet para pesquisar um lugar para o acampamento. Foi uma amiga da família que trabalha com turismo que sugeriu e indicou um camping em Trindade. Ela já havia acampado em Trindade e disse que o local era paradisíaco. Pronto! Já tínhamos o local, Trindade.
Agora faltava a barraca. Temos uma conhecida que trabalhava em uma famosa empresa de produtos náuticos, e pedimos que ela indicasse um local para comprarmos uma barraca mais em conta, mas ela sugeriu:
– É o primeiro acampamento de vocês… E se vocês não gostarem da experiência? Vão fazer o que com a barraca? Eu tenho uma barraca para seis pessoas novinha, eu empresto para vocês e se gostarem da experiência de acampar, depois vocês compram uma barraca para vocês.
Pronto! Já tínhamos o local e uma barraca.
27 de Dezembro de 2012… Chegou o dia… HU HUUU!!!
Arrumei as tralhas no carro e partimos com destino a Trindade, eu, minha esposa e meu filho.
Chegando a Ubatuba, a paisagem já começa a ficar exuberante. Naquele dia, o sol estava maravilhoso, o dia estava lindo.
Chegamos ao camping por volta das 10h da manhã. O senhor que nos recepcionou foi extremamente simpático.
O camping em si não parecia com nada com o que nós havíamos imaginado, mas a beleza da natureza ao redor era magnífica.
O camping era uma área equivalente a um quarteirão, todo gramado e com várias árvores. Tinha quatro banheiros bem simples e uma área coberta que funcionava como cozinha e que mais parecia um barraco tailandês atingido por um tsunami. Como não pretendíamos comer no camping, não demos muita importância.
Até então estava tudo como o planejado, apesar de o camping não ser o que eu imaginava.
Estacionei o carro e chegou a hora de montar a barraca. Aí a coisa começou a se complicar um pouco.
Começamos a montar a barraca por volta das 11h – o sol estava sobre as nossas cabeças. Fazia 42 graus e a sensação térmica era de 48. Só de levar as tralhas do carro até o local onde iria ficar a barraca, eu perdi uns dois litros de suor e bebi dois litros de Coca-Cola. O calor estava insuportável.
Era a primeira vez que montava uma barraca e na verdade não tem o menor segredo, ou melhor, tem sim! Falarei dele mais a frente.
Por ser a primeira vez, montamos tudo muito rápido, e assim que terminamos fomos para a praia.
Fomos para o centrinho de Trindade, local que em certos momentos parecia com os becos das favelas de São Paulo. O pessoal fuma maconha na mesma proporção que os gaúchos bebem chimarrão, mas nada de violência ou atitude hostil. Tudo mundo de boa!
Ficamos o tempo todo dentro da água, pois era praticamente impossível ficar fora dela.
Quando o sol começou a se pôr, voltamos para a nossa barraca. Estávamos ansiosos em passar a nossa primeira noite dormindo em uma barraca.
Quando retornamos ao camping, um grupo com três casais de jovens havia montado uma barraca bem em frente à nossa, mas todos pareciam ser gente boa.
Às 21h, a temperatura já estava mais agradável e já estávamos dentro da barraca para uma inesquecível noite de sono. Inesquecível mesmo!
Às 22h, as luzes do camping foram apagadas, o breu era total. Eu achei um pouco estranho, pois pensei que iríamos conseguir observar o céu estrelado, mas logo entendi por que não enxergávamos as estrelas. À meia-noite em ponto, um trovão rasgou o silêncio e um raio a escuridão, arrancando um galho de uma árvore a alguns metros da nossa barraca… O susto foi grande! Mas o pior ainda estava por vir.
A primeira noite na barraca é estranha, tem o barulho do vento nas árvores, sons de pássaros noturnos e, neste camping especificamente, tinha o barulho do mar, que a essa altura já estava revolto.
Bom, logo começaram a cair os primeiros pingos de chuva, mas em questão de minutos o que aconteceu foi algo conhecido como Tromba d’Água.
Os raios e trovões aconteciam em intervalos de segundos uns dos outros, o vento era fortíssimo e arrancava os galhos das árvores. O barulho do mar batendo nas rochas é algo que eu não tenho como descrever.
O pessoal que estava na barraca em frente à nossa correu não sei para onde, parecia que cada um tinha corrido para um lado.
Lembra-se do segredinho na hora de montar a barraca? Vou falar dele agora.
No teto da barraca, bem no topo, existe uma fita parecida com um cadarço que serve para amarrar as varetas que se cruzam sobre o teto da barraca. Eu não dei a mínima para essa fita, achei que era frescura, só que na hora do vento esse pequeno desleixo custou caro.
O vento começou a desmontar a barraca e começou a entrar água por todos os lados.
Eu sabia que estávamos correndo perigo devido à quantidade de raios, e o lugar mais seguro para nós nos abrigarmos era dentro do carro. Só que, para chegarmos até o carro, tínhamos que atravessar toda a extensão do camping, que era um terreno cheio de desnível, cheio de buracos, árvores, plantas com espinhos, fios de alta tensão, encontrava-se totalmente no breu, e ainda por cima não conseguíamos encontrar a chave do carro, pois a barraca havia desmontado.
Não tínhamos opção. Ficamos em cima dos colchões de plástico, pois pensamos que ele poderia ser um isolante contra uma possível descarga elétrica de um raio, mas até hoje não tenho certeza disso.
A tempestade durou até as 2h da manhã. Depois que tudo acalmou, fomos arrumar os destroços da barraca e procurar a bendita chave do carro.
Lá pelas 6h da manhã é que sentimos a falta do grupo de jovens. Para onde teriam ido eles?
Mal acabei de perguntar por eles para a minha esposa, e vimos a porta do banheiro se abrir. E lá de dentro saiam eles, as meninas chorando, os rapazes fazendo piadinhas, mas estavam com cara de assustados. Os seis passaram a noite dentro do banheirinho.
O dono do camping nos disse que em 30 anos nunca havia chovido daquela maneira, e pior, disse que atrás do camping existe uma cachoeira e um riacho e que ele temeu por uma inundação que arrastaria tudo do camping para o mar.
Todos nós desarmamos as nossas barracas e fomos embora.
Por causa desta chuva, 30 pessoas morreram devido aos deslizamentos de terra na região de Angra dos Reis e Paraty-RJ.
O medo foi muito grande e eu pensei que nunca mais iríamos acampar, mas um mês depois dessa terrível experiência em Trindade nós já tínhamos comprado a nossa barraca, e o nosso segundo acampamento foi na simpática cidade de Joanópolis-SP, a cidade do lobisomem, mais especificamente na Cachoeira dos Pretos.
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