O litoral do Espírito Santo abriga um local quase desconhecido pela população, de belezas naturais raras e surpreendentes. Trata-se da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, situada a 50 km ao norte de Vitória, em Santa Cruz, distrito do município de Aracruz.

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Augusto Ruschi, patrono da ecologia

Desde criança ouço histórias da minha mãe sobre as proezas de Augusto Ruschi (1915-1986). O fundador da Estação recebeu, em 1994, o título de Patrono da Ecologia Nacional, devido à sua atuação na defesa de ecossistemas e na disseminação de informações para a preservação de algumas espécies no estado do Espírito Santo. Cientista, agrônomo, advogado, naturalista, ecologista, conquistou reconhecimento internacional, virou até nota de 500 cruzados! Dono de uma personalidade forte, Ruschi assumia diversos projetos e lutava por causas ecológicas muito antes do assunto surgir na mídia. Assim, foi enorme o prazer de conhecer seu filho, o também biólogo e pesquisador André Ruschi.


Relato da visita à Estação de Biologia Marinha

Quando cheguei à Estação, após uma viagem de carro de três horas a partir de Guarapari, ainda eram 7h30 da manhã e os funcionários estavam preparando os bebedouros para os beija-flores. O céu estava nublado e o clima um pouco frio, por isso não demorou muito para que dezenas de aves viessem se alimentar da água com açúcar para repor o gasto energético. Literalmente, é só sentar e apontar a câmera lentamente para frente, o resto é com as aves: inúmeros saíras e beija-flores pousam e desfilam para as fotos.

Observação de aves (Foto de Gualter Pedrini)

Observação de aves (Foto de Gualter Pedrini)

André Ruschi é uma atração à parte. Foram horas de entrevista, debates sobre política, ecologia, histórias sobre o seu pai. Enquanto caminhávamos pela Estação, ele me demonstrava como aquele lugar era único: embaixo de cada pedra na praia, havia quatro ou cinco espécies de invertebrados; no mangue, espécies adaptadas ao mar e ao vento intenso; na mata, aves, répteis e insetos. O tempo voou enquanto eu aprendia sobre aquele ecossistema.


O incrível ecossistema marinho

As algas calcárias se amontoam na praia e a sensação é de que estamos em um lugar intocado pelo homem. Elas possuem a função de fixar o CO2 e, diferentemente das outras algas, são as únicas que mineralizam o gás na forma de carbonato. Como o crescimento das algas calcárias é de 0,5 a 1mm/ano, estima-se que os exemplares pequenos têm em média 40 anos e os médios de 200 a 300 anos, segundo André. Acredita-se que nesta área do Espírito Santo, desde Guarapari até São Mateus, encontra-se o maior banco de algas calcárias do mundo, com capacidade de assimilar até cinco por cento de todo o CO2 do planeta.

Ecossistema típico (Foto de Gualter Pedrini)

Um dos fatores que contribuiu para a formação deste ecossistema marinho privilegiado é a sua posição estratégica na rota das correntes marinhas. Próximo à Estação, a Corrente do Brasil (que vem da costa nordeste) forma um giro ciclônico (Giro de Vitória) com um núcleo de água fria rica em nutrientes e espécies. Essas espécies, ao se libertarem desse movimento de água, povoam o litoral naquela região. Além do ecossistema marinho, a Mata Atlântica diferenciada, o mangue preservado e as praias paradisíacas (repletas de espécies de crustáceos, peixes e aves) formam um cenário inspirador.

Galeria de Fotos

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A importância da preservação

Os ecossistemas naturais estão fortemente pressionados em todo o planeta. Com os ambientes marinhos, o quadro nunca esteve tão perturbador. Lagoas costeiras, manguezais, praias e áreas costeiras submersas vêm sendo agredidos e devem ser protegidos. A falsa ideia de que os oceanos eram inesgotáveis foi caindo por terra à medida que novos estudos apontaram para a relação dos mares com os ciclos climáticos e outros processos naturais em escala global. E Augusto Ruschi foi um dos pioneiros a compreender isto.


Como visitar a Estação de Biologia

A Estação dedica-se a pesquisas, educação e cultura sobre ecologia, mas é aberta também ao público geral para visitação. A área é extensa, e os visitantes podem fazer trilhas guiadas ou independentes, sempre voltadas para a contemplação do ecossistema típico. Para se hospedar na Estação, deve-se agendar com antecedência de pelo menos duas semanas (acesse o site da Estação). Existem opções de pacotes tanto para campistas quanto para excursões, com alimentação completa e guia pelas trilhas, com valores de diária a partir de R$ 45,00 por pessoa. Quem quiser acampar e trazer a própria alimentação pagará um valor reduzido a combinar, mas sugiro economizar nas tralhas e usufruir da refeição servida por eles. Além de uma razoável área para camping, a Estação possui dormitórios coletivos e quartos privativos, banheiros, água quente e fria com qualidades minerais, computador, biblioteca, laboratório, viveiro florestal e um vasto arquivo de informações ambientais. A área externa tem 8 ha de floresta virgem, 7 ha de área em recuperação, 6 ha com experiências de agricultura orgânica de plantas medicinais e 2 km de trilhas de Mata Atlântica. A área de camping abriga até 10 barracas, é bem segura e coloca o visitante em contato real com a natureza do lugar desde o primeiro raio de luz do dia. Visitar e acampar na Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi é uma aventura de descobertas e conhecimento, de contemplação da natureza, sem a badalação de alguns pontos turísticos e sem ruídos da urbanização.

MAIS INFORMAÇÕES
Site oficial da Estação: www.ruschicolibri.com.br
Mais fotos: http://bocasaovento.com.br/
Guia especializado em observação de aves: Gustavo Magnago (gmagnago@msn.com)

 


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Gualter Pedrini

É fotógrafo de natureza há dez anos. Colabora para algumas revistas que abordam o turismo ecológico "verídico", ações em prol da preservação e denuncia a degradação do meio ambiente, principalmente na Mata Atlântica e nas regiões costeiras. Veja mais do trabalho de Gualter em http://bocasaovento.com.br/