Quando estamos acampando e uma tempestade com raios começa a se aproximar, os riscos se tornam eminentes, principalmente em um local selvagem, sem a possibilidade de se proteger em alguma casa ou outro tipo de estrutura de concreto. Nessas horas é essencial saber o que fazer e o que não fazer.

O Brasil é o campeão mundial em incidência de raios. A cada 50 mortes por raios no mundo, uma acontece aqui. Mas é sabido que 80% dos acidentes poderiam ser evitados se as pessoas soubessem como se proteger.

Confira alguns dados do Brasil, bastante interessantes:

“Segundo o levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica, 14% das vítimas foram atingidas embaixo de árvores, 10% na cobertura de casa (varandas, toldos etc.), 10% dentro da residência, 9% foram atingidas por raios quando praticavam esporte, principalmente em campos e quadras de futebol, e 3% dentro do mar ou na areia da praia. O restante dos casos fatais aconteceu em circunstâncias diversas, como na construção civil e em enchentes.” 

Fonte INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)


Princípios Básicos

Antes de ler as dicas abaixo, entenda que os raios tendem a cair (serem atraídos) sempre por objetos mais altos, que se destacam na paisagem.

Rapidamente explicando, um raio é uma descarga elétrica, que ocorre  durante uma tempestade, quando as nuvens estão com excesso ou falta de elétrons. Para buscar a neutralização há uma descarga da nuvem para o solo (ou entre nuvens). Isso costuma ocorrer por meio do objeto mais alto que se encontra no solo.

Por isso, a regra é: evite áreas altas, abertas, descampados, campos de futebol, beira de lagos ou qualquer outro local onde você seja o ponto mais alto. Nessas situações, você pode ser um dos principais alvos do raio.

Além disso, ainda em áreas altas, abertas, descampados, campos de futebol e beira de lagos, nunca fique debaixo de objetos que não ofereçam real proteção, como árvores ou quiosques, por exemplo, pois esses, possivelmente, serão os principais alvos do raio e você será atingido indiretamente.

Ressaltamos que algumas coisas atraem raios por estarem em locais isolados (como comentamos acima), mas outras atraem pelo seu material: os metais. Por isso, também nunca fique junto ou debaixo de objetos metálicos.

A grande dica é: procure se proteger dos raios, mas nunca debaixo de locais que atraem raios! 


O que NÃO fazer

Baseando-se nos princípios que citamos acima, veja abaixo as dicas do que você não deve fazer. São coisas simples que podem salvar sua vida!

– Saia da Barraca! Independentemente de onde você estiver acampando, a primeira coisa a fazer é sair de dentro da barraca e procurar um local abrigado. Faça isso principalmente se a sua barraca estiver em um local descampado, pois ela poderá se transformar em um ponto de atração de raios.

Não fique deitado! Quando um raio cai, o chão fica energizado e, se você estiver deitado nele, poderá ser atingido indiretamente. Não pense que deitar sobre o isolante irá salvar você. A intensidade elétrica de um raio pode ser 1.000 vezes maior que a de um chuveiro elétrico. Se o raio cair em um local próximo e você estiver deitado, a corrente atingirá toda extensão do seu corpo. Se seu isolante for aluminizado, pior ainda: além de não proteger, por ser um material metálico, ele pode atrair a corrente elétrica que fica no solo até você. Conforme comentamos antes, a maioria das mortes por raios acaba ocorrendo de forma indireta.

– Não seja o ponto mais alto! Não fique em topos de morros, colinas, locais altos e elevações. Também não fique em descampados, campos de futebol, pastos, beiras de lagos, praias etc. Em qualquer situação em que você seja o ponto mais alto, você poderá atrair os raios.

– Afaste-se de árvores isoladas! Quando uma árvore está isolada em uma área, ela se torna o ponto mais alto e, consequentemente, a chance de ser atingida por um raio é grande. Essa  regra vale para todos os objetos isolados, independentemente do material.

Vale relembrar que, segundo as estatísticas,
a maioria das mortes por raios acontece debaixo de árvores.

– Afaste-se de objetos metálicos! Isso é válido para objetos em geral, como bicicletas, motos, cercas de arame, varais metálicos, postes, mastros, linhas de transmissão, trilhos de trem etc. – Não que eles vão atrair os raios, mas por serem bons condutores podem potencializar e conduzir a descarga elétrica até você. Não se proteja debaixo de paradas de ônibus, quiosques ou qualquer outro abrigo feito de metal.

– Saia imediatamente da água (mar, lagoa ou piscina)! Quando um raio cai na água, que é um bom condutor elétrico, a descarga se propaga por longas distâncias. Por isso, por mais que a tempestade esteja longe, o perigo pode estar perto. Quando um raio cai na água sua descarga pode atingir uma pessoa que esteja até 5km de distância do local da queda.

– Não fique em locais alagados! Como citamos antes, a água conduz facilmente a eletricidade e, mesmo distante do local onde o raio caiu, em locais encharcados você pode ser atingido indiretamente por descargas elétricas.


Como se proteger 

Agora que você já sabe tudo que não pode fazer, vamos dar dicas de como você pode se proteger! Seja pró-ativo não espere a tempestade chegar em cima de você para se proteger. A estatística diz que a maioria das pessoa que é atingida é pelos primeiros raios da tempestade.

Abrigo: Se possível, entre em alguma estrutura como casas, edifícios, galpões, cavernas. Esses são os melhores locais para se proteger, principalmente se estiverem equipados com para-raios. Após a tempestade passar, aguarde um tempo antes de sair para fora do abrigo, pois o solo pode estar energizado e você poderá ser atingido por uma corrente indireta, como comentamos antes.

Carro: Se houver um carro, o melhor a fazer é entrar nele e fechar as portas e janelas, sem tocar na lataria ou partes externas. Por mais que o carro venha a ser atingido por um raio, a descarga elétrica não chegará à parte interna.

Segundo o experimento da Gaiola de Faraday   em um carro (por exemplo) atingido por um raio, a eletricidade é distribuída apenas na sua superfície externa; no seu interior não há traço de eletricidade. Ainda, segundo essa lei, a força elétrica no interior dos condutores (o carro, no caso) completamente fechados e desprovidos de corpos eletrizados é nula.  Por isso a importância de manter o carro fechado com vidros e portas fechadas!

Trailer ou Motor home: Se houver um trailer ou motor home, é válido o mesmo princípio explicado acima para os carros. Apenas certifique-se de fechar todas as portas e janelas.

Matos fechados: Não é a melhor proteção que existe, mas se você não tem uma estrutura ou carro para se proteger, a melhor opção é entrar em algum mato e, se possível se manter a uma distância de 3m ou 4m dos troncos das maiores árvores. Dentro do mato, a chance de ser atingido por um raio diminuirá muito. No entanto, fique atento a animais e outros perigos ao redor, e procure não se locomover muito, para não correr o risco de ficar sem referências e se perder. Faça isso apenas caso não haja outras formas de proteção.

Sem estrutura: Se você está em um local aberto e não há um abrigo, nem um carro, nem mato para se proteger, a melhor coisa a fazer é se agachar no chão, somente com os pés no chão (e encostados um no outro) e em formato de “bolinha”, para você não ser um ponto alto, que atraia o raio. Jamais sente ou deite no chão. Quando um raio cai, o chão fica energizado e, se você estiver deitado nele, poderá ser atingido indiretamente. Conforme comentamos antes, a maioria das mortes por raios acaba ocorrendo de forma indireta.

Se possível, saia dos locais mais altos e caminhe em direção a vales, depressões, matos fechados ou simplesmente locais mais baixos, onde a incidência de raios tende a ser menor.


Curiosidades

Distância do raio

É possível saber a distância do local em que o raio caiu fazendo uma conta bastante simples:

Considerando que a velocidade do som é de 348 metros por segundo (a uma temperatura de 28ºC e 70% de umidade do ar), basta multiplicar esse número pela quantidade de segundos que o som demora para se propagar. Para facilitar a conta, arredonde esse número para 350 (não vai fazer tanta diferença no resultado final).

Na prática, ao ver o raio, comece a contar os segundos. Se, por exemplo, passou 10 segundos entre você ver o raio e ouvir o trovão, multiplique esse valor por 350. Calculando: 10 X 350 = 3.500 m. Ou seja, o raio caiu a 3.5 km de distância de onde você está.

Normalmente, conseguimos ouvir um trovão quando o raio cai a até 20 km de distância.

Fatores de morte

Na maioria das vezes, a morte acontece por parada cardíaca e respiratória, devido à descarga elétrica. Normalmente essas descargas são de forma indireta: pelo solo, pela água, por materiais metálicos, entre outros.

Como geralmente as pessoas buscam se abrigar, raramente um raio cai diretamente sobre uma pessoa. No entanto, quando isso acontece, a intensidade da descarga equivale a cerca de 30.000 ampères (aproximadamente mil vezes a intensidade da corrente de um chuveiro elétrico). Ou seja, nesses casos a morte é imediata.

A maioria dos dados técnicos foram retirados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Algumas informações são provenientes do National Weather Service   dos Estados Unidos.

O INPE também possui uma Cartilha com explicações bastante simples para ajudar na prevenção de acidentes com raios. Confere aqui: http://www.inpe.br/webelat/docs/Cartilha_Protecao_Portal.pdf

Luiza Campello

Porto-alegrense, mochileira, campista e formada em turismo. Um dia ela resolveu unir todas suas paixões: natureza, viagens, campismo, biologia, geologia, turismo e se tornou co-fundadora deste site.