Não, esse texto não é sobre equipamentos de camping descartáveis, é uma reflexão sobre as discrepâncias de valores e entendimento sobre a realidade em que vivemos. Nesse caso os equipamentos de camping e as nossas atitudes são o objeto dessa reflexão.

Semana passada uma notícia impactante circulou em diversos meios de comunicação, mostrando milhares de barracas, sacos de dormir e muito lixo abandonado, ao final de um festival de rock na Inglaterra, o Reading Festival, que aconteceu de 26 a 28 de agosto. A imagem chocante do descaso e do lixo traz uma importante reflexão sobre consciência social e ambiental.

Felizmente essa história teve um final feliz, quando a organização Herts For Refugees foi lá e recolheu 2.300 barracas e 500 sacos de dormir e doou tudo isso, que viraria lixo, para refugiados que estão morando na França em Dunkirk e Calais. Essa é uma ação que essa organização se propõe a fazer inclusive também em outros festivais.

Definitivamente é maravilhoso saber que essas barracas não viraram lixo e puderam ser reutilizadas para um fim tão importante como virar abrigo para refugiados, pessoas que passam tanto sofrimento e necessidade. Mas é aí que vemos a discrepância. Aquela barraca que é descartável para uns, pode ser o melhor abrigo que outras pessoas podem ter.

É uma reflexão complexa, sobre questões humanitárias bem mais profundas, sobre como uns tem tanto e outros quase nada. Uma discussão que não vai mudar o mundo, mas podemos pensar em como ações das partes envolvidas poderiam mudar esse cenário.

É lamentável ver o descaso do público do festival com os equipamentos de camping e com o lixo gerado. É triste perceber a falta de consciência, a alienação dessas pessoas para com o mundo que vivemos, tanto ambientalmente como socialmente. São pessoas, em sua maioria jovens, que não conseguem entender que equipamentos de camping não são descartáveis, não são lixo! Eu me pergunto que valores tem esses jovens que deixam tudo para trás? Eles já preveem que alguém irá recolher o lixo que eles  deixaram espalhado pelo chão. Esses são os jovens que querem um novo futuro para o nosso planeta? Eu sinto vergonha alheia, só de olhar as fotos.

Mas vale refletir também sobre, de quem é a reponsabilidade, o que poderia ser feito diferente? A reponsabilidade é, tanto de quem organiza o festival, como de quem vai no festival e deixa os “restos” para trás!

Eu entendo que para um festival como esse, criar uma área de camping é muitas vezes a opção mais viável. Só que não dessa forma! Tem que ter regras e conscientização!

Em um texto que criticava o festival, eu li a opinião que deveria ser obrigatório todos levarem o equipamento de volta para casa. Mas, se a pessoa não costuma acampar, levar o equipamento de volta para casa, acabaria com que ele fosse descartado em outra ocasião. E dessa forma, não permitiria que ele fosse utilizado para um fim bem mais nobre! O que não é dá para aceitar é que essas barracas sejam recolhidas após serem abandonadas como se fossem lixo!

O que seria legal? Os organizadores do evento poderiam promover a conscientização sobre a destinação dos equipamentos após o festival. Dentro da própria área de camping, poderia haver um “posto de coleta de equipamentos” onde os participantes poderiam voluntariamente e conscientemente fazer a doação dos equipamentos, sabendo que o destino deles fará o bem de outras pessoas.

Ou seja os jovens não deixam para trás os restos, para que alguém venha recolher e sim, de forma consciente decidem doar para quem precisa. Percebe que essa simples ação faria toda a diferença?

Mas, se olharmos profundamente, o buraco desse problema é bem mais embaixo. Jogar lixo no chão é a etapa 1, do mínimo de consciência ambiental. E que também não devia ser aceito pelos organizadores do evento.

Da mesma forma que não jogamos lixo no chão da nossa casa, não podemos abandonar equipamentos em uma trilha, acampamentos ou na montanha. E nem mesmo em um show de rock!

Mas o mais impressionante é ainda termos que estar falando e refletindo sobre isso!

Obrigada ao amigo Elias Maio por ter enviado a notícia que gerou esse post! 


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Luiza Campello

Porto-alegrense, mochileira, campista e formada em turismo. Um dia ela resolveu unir todas suas paixões: natureza, viagens, campismo, biologia, geologia, turismo e se tornou co-fundadora deste site.